quinta-feira, 26 de março de 2009

Com quantas Ervilhas se faz uma Teoria?

Bom , com o título na forma interrogativa, falando de ervilhas e de teoria me vem na mente um grande homem que teve contribuição significativa para os estudos em biologia.
Sim caro leitor! Falo de... Charles Darwin (Rá!).

Na verdade a homenagem de hoje não é nem pra Darwin e nem p/ Mendel (aquele que lhe veio à mente ao ler o título do post), hoje a homenagem é para as ervilhas, e vou logo justificar:


A homenagem vai para as ervilhas (Pisum sativum) porque elas foram um importante instrumento de trabalho que serviu de base para todo o conhecimento de genética que há hoje. Ela passou pelas mãos de pelo menos 2 grandes nomes da ciência.



Em 1866, Darwin enviou uma carta a Wallace com os dizeres:

My dear Wallace

After I had despatched my last note, the simple explanation which you give had occurred to me, & seems satisfactory.

I do not think you understand what I mean by the non-blending of certain varieties. It does not refer to fertility; an instance will explain; I crossed the Painted Lady & Purple sweet-peas, which are very differently coloured vars, & got, even out of the same pod, both varieties perfect but none intermediate.

Something of this kind I sh. think must occur at first with your butterflies & the 3 forms of Lythrum; tho' these cases are in appearance so wonderful, I do not know that they are really more so than every female in the world producing distinct male & female offspring.

I am heartily glad that you mean to go on preparing your journal

Believe me yours | very sincerely | Ch. Darwin”

Ele realmente estava falando das ervilhas! Ele realizou experimentos cruzando-as entre si, mas não chegou às mesmas conclusões que Mendel. E sabe porquê? Um detalhe chamado Estatística. O monge teve um rigor científico daqueles que hoje muito se menciona e pouco se pratica. Quer uma amostra do que ele fez? Então vamos aos fatos:

Quando surgiu a idéia de efetuar o cruzamento entre plantas ele deveria eliminar algumas variáveis, mas imagine o que é trabalhar com organismos em um ambiente - no caso o jardim do mosteiro - em que não se tem total controle destas variáveis. A escolha das ervilhas deu-se principalmente por elas:

- apresentarem características distintas e serem facilmente reunidas em grupos bem definidos;
- se reproduzirem com grande rapidez e deixarem grande quantidade de descendentes.

Sem contar que na época a Morávia (região em que ele realizara os experimentos) era uma região economicamente ativa graças ao bom desenvolvimento da horticultura. E soma-se a isto o fato de que ele era filho de camponeses e foi iniciado cedo nas artes da agricultura.


O primeiro grande feito de Mendel foi fazer a triagem do material para encontrar as linhagens o mais próximas o possível do que ele consideraria pura , ficou 2 anos realizando ensaios para obter as linhagens desejadas.

A segunda parte do trabalho foi mais árdua: realizar o cruzamento entre as ervilhas.

Foram cerca de 10.000 espécimes!!! Não foram 100 nem 1000, foram 10 mil! E cerca de 300 mil sementes. E assim ele ficou cerca de 10 anos trabalhando com as mesmas e encontrou caracteres que chamara de dominantes e recessivos e também as proporções 3:1 e 1:2:1 (ou 2:1:1 como ele mesmo menciona), ah! E no artigo sobre hibridização das plantas ele citava os famosos Aa e Bb que são exaustivamente trabalhados nas aulas do ensino médio.



Hoje fico imaginando (e suponho não ser o único) o que teria ocorrido se Darwin tivesse conhecimento dos trabalhos de Mendel. Depois de ler o texto extremamente abrangente de Leite, Ferrari e Delizoicov (2001) - postado no blog do Rubens Antônio - percebi, numa perspectiva histórica e social, que o rumo da ciência poderia ter sido o mesmo, sem grandes alterações.


[Referências nos hiperlinks e no livro "Memória Hoje - fatos que mudaram a nossa forma de ver a natureza." Vol 1 - Ciências Biológicas e Ambientais - Instituto Ciência Hoje e FAPERJ]

terça-feira, 24 de março de 2009

Algumas discussões sobre a Ciência e o Ensino de Ciências – Parte 2

A partir da discussão tratada no post anterior, sobre racionalidade científica, podemos discutir como, em determinado momento histórico, da civilização ocidental, vai se privilegiar um tipo de conhecimento – aquele proveniente dos experimentos das Ciências Exatas, Naturais e Biológicas - em detrimento de outro – o senso comum, ou os saberes das comunidades. Esse paradigma, da racionalidade científica, vai nortear as ações das instituições criadas na modernidade, dentre elas a escola, e demarcar o conhecimento científico do conhecimento de senso-comum.

A ênfase no conhecimento científico, nos programas escolares brasileiros, consolida-se nos primeiros anos da República, com a reforma de Benjamim Constant. Esta, ao substituir o ensino humanístico pelo enciclopédico, garantiu a obrigatoriedade das disciplinas científicas nos currículos das escolas secundárias. Em conseqüência, os programas escolares brasileiros, do início desse século, foram fortemente influenciados pelo positivismo francês (Wortmann, 1992, p. 34).

A tendência empirista intensificou-se no contexto educacional brasileiro, após a 1ª Guerra Mundial, através do imperialismo norte-americano, onde predominava a perspectiva do empirismo-lógico. Tal sistema de idéias amplia-se no contexto mundial, no período Pós-Segunda Guerra Mundial, em conseqüência da necessidade de se “criar” sujeitos “consumidores” e “produtores” do artefatos científicos gerados pelo crescente processo tecnológico e industrial.

Importante “marco” na ênfase da cientificidade dos currículos escolares, para a formação de “pequenos cientistas”, foi a perda da corrida espacial pelos E.U, para a União Soviética, em 1957. As propostas curriculares passaram a enfatizar as técnicas da redescoberta e de investigação, e o pensamento indutivo para o estudo dos conteúdos escolares. Além disso, nessa época, privilegiou-se as metodologias ativas, dentre elas as atividades realizadas no laboratório, alicerçadas no ideário do escolanovismo norteamericano introduzido desde a década de trinta.

Atualmente, este sistema de idéias explicita-se constituindo as “falas” dos/as professores/as, quando esses/as atribuem a aquisição do pretenso “conhecimento científico” à utilização do “método científico”, dos materiais do laboratório, entre outras especificidades do ensino de ciências, que estipulam regras e padrões de conhecimento a priori; e/ou ainda, quando os/as estudantes apresentam em suas respostas os “produtos da ciência”, ou seja, os conceitos considerados “verdadeiros”, geralmente apresentados nos livros-didáticos.

Entretanto, desde a década de cinqüenta, autores situados genericamente na “tendência histórica” (Bombassaro,1993), têm questionado a tendência analítica, quanto: à teoria empirista da percepção, afirmando que todas as nossas percepções são significativas (conhecimentos prévios e crenças), ao progresso cumulativo da ciência e, também, evidenciado o papel da comunidade científica no processo de aceitação, produção e legitimação do conhecimento; à “crença” na existência de um único método e ideal de ciência; aos critérios de demarcação do que é considerado ou não conhecimento científico, sugerindo uma revalorização da metafísica para a ciência. Assim, mais especificamente nos últimos 20 anos os estudos na área da Sociologia da Ciência vem considerando a ciência como uma produção cultural. Neste caso, se as teorias científicas são constructos humanos que sempre vão além dos fatos, no sentido de que qualquer conjunto de fatos aceitos pode ser compatível com várias teorias, pode-se tratá-las como derivadas da convenção gerada pela própria atividade dos cientistas (Feyerabend, 1989, Gould, 1999, Kuhn, 2000, Wortmann, 1998).

Bibliografia:

Bombassaro, L.C. As fronteiras da epistemologia: como se produz o conhecimento. 2.ed. RJ: Ed.Vozes, 1992

Feyerabend, P. Contra o método. Tradução Octanny S. da Mota e Leônidas Hegenberg. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1989.

Gould, S.J.A falsa medida do homem. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

Krasilchik, M. O professor e o currículo. São Paulo: EPU, 1987.

Kuhn, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectivas, 2000.

Santos, B.S. Um discurso sobre as Ciências. 8. ed Porto: Afrontamento, 1996

Videira, A. L. L. Natureza e ciência moderna. Ciência e Ambiente, v. 28. Santa Maria: UFSM, 2004. p. 121-134.

Wortmann, M.L.C. Os programas de ensino de ciências no Rio Grande do Sul. Educação e Realidade, 17 (1), Porto Alegre: UFRGS, 1992. p. 33-47.

Wortmann, M.L.C. Questões postas pelos estudos de ciência e a educação em ciência. In: Seminário Internacional de Reestruturação Curricular: A escola cidadã no contexto da globalização (Porto Alegre). Petrópolis: Ed. Vozes, 1998. p. 252 - 271.

observação: texto escrito em conjunto com a Professora Nádia Geisa Silveira de Souza (FACED/UFRGS)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Reflexões sobre cultura científica

Texto do professor Maurício Façanha Pinheiro, publicado no Diário do Nordeste em outubro de 2006.

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As descobertas científicas raramente são percebidas como manifestações culturais, pois infelizmente, as palavras cultura e ciência, ao invés de estarem associadas respectivamente a gênero e espécie, têm sido utilizadas em nossa língua portuguesa, falada no Brasil, para representar produções humanas distintas, quase opostas. Quando se diz que uma pessoa é culta, a imagem que se forma é de conhecimento vasto, enciclopédico, aquela que sabe de tudo um pouco. O estereótipo de cientista, ao contrário, é daquela pessoa alheia ao mundo, envolta em suas pesquisas, limitadas a uma área específica, sabe muito de muito pouco. O questionamento sobre essa contraditoriedade de conceitos é o objeto principal desta edição.

A arte, enquanto produção cultural mais antiga, para grande número de cientistas não tem valor ´científico´, e infelizmente poucos cientistas renomados demonstram sensibilidade suficiente para apreciar poemas e melodias. Se vivesse nesse mundo cientificista, o que diria Kepler, que acreditava na dança das esferas celestes, na música e na matemática como códigos divinos da natureza? Sem a concepção mística dos astros, talvez não tivesse descoberto que as trajetórias dos planetas são elípticas e não circulares, como defendera severamente Galileu, tentando até mesmo ridicularizá-lo por refutar esse aspecto de sua tese heliocêntrica.

Impossível não lembrar de Einstein, talvez a figura científica mais conhecida, principalmente pela caricaturada foto irreverente com a língua pra fora. Desenvolveu sensibilidade e imaginação tocando seu violino desde a infância e especificou em testamento a doação do seu instrumento musical ao neto.

Um professor seu chegou a dizer: ´o único estudante aqui capaz de tocar uma sonata de Beethoven com sentimento é Einstein´. Escreveu o físico a uma colega pianista sobre seu violino: ´Só com ele eu digo e canto para mim mesmo coisas que, em pensamentos sóbrios, nem admito´.

Como princípio do conhecimento humano, a Filosofia, suntuosa nas primeiras universidades (ainda hoje algumas conferem o título de Doutor em Filosofia, Philosophy Doctor, PhD), passou a ser desprezada com o estabelecimento da ciência moderna. Da época em que os primeiros cientistas ainda se denominavam filósofos naturais, destaca-se aquele que afirmou ter se apoiado nos ombros de gigantes para chegar mais longe, cujos historiadores associam sua coragem em enunciar leis sobre forças misteriosas entre dois corpos a seus estudos alquimísticos. O livro de Sir Isaac Newton mais famoso foi ´Philosophiae naturalis principia mathematica´, mais conhecido como ´Principia´, considerado a obra científica mais importante já escrita.

Vislumbramos, à direita, a capa da primeira edição do livro de Newton, com suas correções manuscritas para a segunda edição.

A Filosofia, entretanto, passou a ser um conhecimento cada vez menos valorizado pelas chamadas ciências naturais, chegando ao absurdo atual, de um doutor em Física, por exemplo, acreditar que pode prescindir da Filosofia. O físico e filósofo Mario Bunge, nosso ´hermano´ argentino pouco conhecido, Doutor Honoris Causa em várias universidades européias e norte-americanas, chega a afirmar: ´Todo cientista nutre posturas filosóficas, embora freqüentemente nem todos o façam de maneira totalmente consciente´.

Compreender a ciência sem a História e Filosofia envolvidas, é impossível e inadmissível que seja dogmaticamente ´pregada´ por muitos de nossos ´falsos pastores´ acadêmicos, pesquisadores e não professores. Há anos formam gerações de cientistas nas duas maiores universidades de nosso estado.

Alguns recentemente têm se dedicado a pesquisas em educação e aos cursos de formação pedagógica e especializações (cursos pagos em universidades públicas), a despeito da ausência de conhecimentos básicos na área, por nem terem cursado licenciatura, infelizmente não exigida para o nível superior.

Enquanto que em estados como o Maranhão, Filosofia faz parte das disciplinas iniciais em quase todos os cursos de sua universidade federal (UFMA), escola em que me iniciei na vida acadêmica, na UFC - Universidade Federal do Ceará, onde concluí minha licenciatura em Química e lecionei por mais de dois anos, essa disciplina ainda está presente em poucos cursos, mesmo entre as licenciaturas. Até bem pouco tempo, para esses currículos, ´prescreviam´ como se fosse um remédio importado, o modelo francês, conhecido como três mais um (três anos de ´formação científica´ e um de pedagógica, uma infeliz adaptação dos cursos de bacharelado.

Esse desinteresse pela Filosofia e pela história do conhecimento que se ensina tem sido objeto de inúmeros estudos e é um dos motivos de uma prática pedagógica inconsciente. Atualmente as licenciaturas, por força de lei, a nova LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação, têm incluído em seus currículos Filosofia da Ciência e História da Ciência, sendo que as universidades carecem de pessoal qualificado para ministrar tais disciplinas, pois somente em alguns cursos de pós-graduação esses conhecimentos são aprofundados.

O MEC - Ministério da Educação, em decisão acertadíssima, no dia 11 de setembro, homologou decisão do CNE - Conselho Nacional de Educação - determinando o ensino de Filosofia e Sociologia nas escolas públicas e privadas, prática já comum em vários estados. A exclusão foi imposta durante a ditadura e seu retorno às salas de aula foi vetado em 2001 pelo então presidente sociólogo. Acredita-se que a reinclusão dessas disciplinas na educação básica poderá motivar a juventude a pensar com liberdade e ética, pressuposto para desenvolver cidadania e humanismo. Com isso, espera-se que os estudantes ingressem nas universidades com um embasamento filosófico indispensável para a compreensão da metodologia científica, outra disciplina ausente muitos cursos das nossas instituições de ensino superior.

A História inevitavelmente une os conhecimentos científicos aos culturais. Infelizmente as escolas têm conseguido dissociá-los e até fazer parecerem incompatíveis. Em nossas universidades poucas graduações oferecem os conhecimentos históricos acerca de seu objeto de estudo. Similar tem sido a clássica divisão entre ciências sociais e naturais, ainda hoje usadas pelo CNPq - Conselho Nacional de Pesquisa, órgão máximo da atividade científica em nosso país. Divide-se o conhecimento em humanas e exatas (desumanas?), subjetivo e objetivo ...

Cultura e ciência são igualmente conseqüências da inteligência humana, porém com o advento da ciência mecanicista, a idéia de inteligência se desvinculou dos outros saberes humanos. Com uma linguagem específica, caracterizando o que Bachelard denominou de Comunidade Científica, esse grupo de intelectuais tem se destacado entre os demais, superando em prestígio os filósofos. Uma comunidade que ostenta o título de detentora da verdade, ilusão consolidada pelo conforto propiciado pelas invenções tecnológicas.

A Ciência, ou melhor, a comunidade científica, tem se fechado em suas especializações cada vez mais restritas, ao invés do meio cultural, sempre aberto a novas e renovadas criações artísticas, peculiaridade humana que reflete seu potencial criador. É emblemático o caso dos médicos, já me consultei com um que se diz especialista em cotovelo. Será que algum dia teremos dois especialistas como esse, um para o cotovelo direito e outro para o esquerdo?

Como educador, antes de cientista, elaborei algumas perguntas durante nosso IV Encontro de Iniciação Científica, que apresento para contribuir com o aprimoramento de uma cultura científica em nosso estado. Se a dúvida é o princípio da certeza, como bachelardiano, transmutei o ´cogito ergo sum´ cartesiano em um poema surracionalista: ´Sinto! E logo, existo. E insisto: a espécie humana pode se tornar insana...´.

Questionamentos sobre a ciência

Observador paulofreireano, nem um pouco imparcial, sinto-me à vontade para levantar questionamentos que podem levar a reflexões importantes, no objetivo fundamental da atividade científica: a busca da verdade. Diante do elevado número de pessoas envolvidas nos diversos programas de iniciação científica nas universidades e centros de pesquisa, torna-se indispensável uma reflexão sobre o papel de sua contribuição para uma humanização da cultura científica.

Nossas atividades científicas infelizmente têm sido influenciadas pela hegemonia de um modelo mecanicista e fragmentado e como tal, impossibilitado de apreender a realidade, una, inter-relacionada a diversos fatores. Edgard Morin afirma em seu livro Ciência com Consciência: ´Se tentarmos pensar o fato de que somos seres simultaneamente físicos, biológicos, sociais, culturais, psíquicos e espirituais, é evidente que a complexidade reside no fato de se tentar conceber a articulação, a identidade e a diferença entre todos estes aspectos, enquanto o pensamento simplificador ou separa estes diferentes aspectos ou os unifica através de uma redução mutiladora´.

Na iniciação científica, muitos aspectos importantes são negligenciados, como a emoção da primeira apresentação científica, comum a muitas das mentes brilhantes iniciadas nessa privilegiada comunidade. Apesar das mãos e voz trêmulas, demonstram em encontros científicos coragem hercúlea para vencer esses e outros obstáculos dignos de verdadeiros heróis.

Eis minhas perguntas:

Por que endeusamos tanto ´a Ciência´, a ponto de lhe chamar assim, personificando a atividade realizada por cientistas, estas, sim, pessoas? Acaso os métodos de pesquisa não foram criados por cientistas, pessoas criativas, muitas lhes dando o próprio nome? Poderíamos considerar, então, estágios de iniciação científica tão importantes como o de Michael Faraday, que iniciou sua vida de cientista encadernando livros e veio a se tornar um dos maiores de toda a História.

Por quais motivos as universidades relegaram às ditas ciências humanas ou sociais a Oratória ou a Dialética, como se para quem se dedica às ciências chamadas de exatas ou naturais, não fosse importante saber comunicar corretamente os resultados das pesquisas e expor publicamente suas idéias? Como poderiam ser maravilhosas as exposições em encontros, se durante o estágio, fossem dadas mais oportunidades para apresentações orais!

Por que será que a emoção ficou relegada à Psicologia, como objeto de estudo, como se todas as pessoas humanas não fossem feitas de carne e osso, mas também de nervos e sensações? Nervos muitas vezes à flor da pele, como geralmente presenciamos em algumas apresentações cujo conteúdo é tão formidável que supera o nervosismo explícito.

Por que alguns cientistas que se dedicam mais à pesquisa parecem se dedicar menos ao ensino, como se no lema universitário ´Ensino, Pesquisa e Extensão´ não aparecesse em primeiro lugar o ensino? Por acaso existiria pesquisa hoje, se não pudéssemos ter nos apoiado nos ombros de gigantes, parafraseando Newton? Que nossos ombros sejam também apoio para que a iniciação científica possa ser catalisada pela afetividade, que, se não é indispensável, melhora muito a relação entre orientadoras e orientadas e conseqüentemente a aprendizagem.

Por que muitas vezes são chamados de futuros cientistas, se o presente já é vivido com tanto rigor científico, se já assumem tarefas tão importantes nos ciclos de pesquisa, responsabilidade tamanha para qual muitas vezes nem foram devidamente preparadas, como para enfrentar os perigos inerentes às atividades em laboratório?

Por que não oferecer então prêmios a todas as horas dedicadas ao trabalho, principalmente de quem exerce suas atividades de pesquisa de forma voluntária, sem ganhar ajuda financeira, menos importante que a experiência e conhecimento adquiridos, porém indispensável para sua manutenção, tanto como para qualquer trabalhador?

Enfim, me pergunto o quanto lhes transmitimos o orgulho de poder contribuir para a pesquisa científica, cujos resultados, muitas vezes questionados, um dia poderão beneficiar toda a humanidade, fazendo por merecer o título de cientista. Será que lhes ajudamos a compreender como seu empenho pode vir a ser reconhecido no futuro, como o de muitas pessoas que se eternizaram na História pelas suas contribuições à ciência e à cultura?


PERFIS


Albert Einstein

Foi um dos mais geniais cientistas de todos os tempos. Seu nome hoje é usado como sinônimo de inteligência. Prêmio Nobel de Física em 1922, é autor da Teoria da Relatividade, que revolucionou a ciência e até hoje é alvo de estudos e um grande desafio para os físicos modernos. Entre mudanças de cidades e falências de seu pai, enfrentou o autoritarismo da escola alemã e o anti-semitismo intenso naquela época. Aos sete anos revelou a vocação: demonstrou o Teorema de Pitágoras, para seu tio Jakob, que poucos dias antes lhe ensinara os fundamentos da Geometria. Nunca mais parou.

Johannes Kepler

Viveu entre os anos 1571 e 1630. Estudou inicialmente para seguir carreira teológica. Na Universidade leu sobre os princípios de Copérnico e logo se tornou um entusiástico defensor do heliocentrismo. Em 1594 conseguiu um posto de professor de matemática e astronomia em uma escola secundária em Graz, na Áustria, mas poucos anos depois, por pressões da Igreja Católica - era protestante - foi exilado, e foi então para Praga trabalhar com Tycho Brahe. Sorte da ciência que via nascer ali um de seus mais expressivos pesquisadores.

Michael Faraday

Nasceu em 22 de setembro de 1791, em Newington Butts, Surrey, em Londres. Seus pais enfrentavam dificuldades financeiras para proporcionar boa formação educacional para os filhos. Aos 13 anos, Faraday havia aprendido somente o necessário para ler, escrever e um pouco de matemática, mas já trabalhava numa livraria. Esse trabalho lhe proporcionou um amplo contato com livros e despertou sua curiosidade e interesse pelas ciências. Ele lia tudo o que lhe permitiam. Foi um dos maiores gênios da ciência no século XIX.

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Maurício Façanha Pinheiro

Professor de Química do IFRN. Licenciado em Química pela Universidade Federal do Ceará (2002), Especialista em Docência do Ensino Superior pela Universidade Estadual do Ceará (2006) e mestrando em Ensino de Ciências Naturais e Matemática (UFRN). Experiência em Educação Química nos níveis médio e superior.


Link para o artigo original.

domingo, 22 de março de 2009

Algumas discussões sobre a Ciência e o Ensino de Ciências - parte 1

É importante que se pense a Ciência ou a organização do mundo, segundo a visão científica, como uma criação da Modernidade. Em outras épocas, como na Antigüidade, o ser humano percebia a si e ao mundo de forma integrada, ou seja, Homem e Natureza constituíam uma totalidade. Nesta época as explicações sobre os fenômenos naturais incluíam idéias empíricas, gerais, místicas, crenças, etc. Entretanto, na Renascença, o homem europeu reduzido a inquietante solidão metafísica e envolto pela subserviência a Deus, procurou refazer sua vida histórica, principalmente na busca da sua dignidade humana. Nesta época, pode-se dizer que o ser humano rompe com a Natureza e procura explicá-la segundo a sua Razão, para dominar e controlá-la. A ciência moderna surge neste contexto, no século XVI e teve entre diversas e importantes implicações a de retirar o conceito de natureza das mãos dos filósofos e teólogos. Os “verdadeiros proprietários” responsáveis pela determinação do que é natureza seriam aqueles que tomam os fenômenos como possíveis de serem investigados através do uso da matemática e da experimentação (Videira, 2004). Segundo Santos (1996), desde a revolução científica do século XVI vive-se sob a égide de um modelo hegemônico de conhecimento, o da racionalidade científica. O modelo mecanicista nega o caráter racional das outras formas de conhecimento, que não se fundarem nos seus princípios epistemológicos e suas regras metodológicas. Nesta perspectiva, as idéias advindas da experiência imediata são duvidosas, em oposição, as idéias matemáticas que fornecem não só o instrumento privilegiado de análise, como também, a lógica da investigação e o modelo de representação da Natureza. Ainda nesta época, a nova definição de natureza e ciência implicou no abandono de ser capaz de constituir uma totalidade, organizada a partir de um princípio existente no interior dos corpos, ou seja, a matematização da natureza fez com que a mesma “perdesse” sua capacidade de integrar, numa mesma totalidade, os fenômenos naturais.

Em conseqüência, ainda hoje, conhecer significa quantificar, seguir o rigor científico aferido no rigor das medições; além disso, conhecer também significa dividir e classificar para se deduzir as “leis da Natureza”, que, por serem simples e regulares, são passíveis de observação e medições rigorosas. Para a ciência moderna a experimentação procura determinar se os processos naturais podem ser explicados através de certas hipóteses. A experiência é uma interrogação feita à natureza a partir de certos princípios, postulados como verdadeiros, os quais possuem a função de atribuir à natureza uma ordem enunciada com o auxílio da matemática. Esta ordem é, antes de ser atribuída à natureza, formulada teoricamente e testada em laboratório.

O racionalismo cartesiano e o empirismo baconiano aplicados às ciências naturais, dos séculos XVI e XVII em diante, vão nortear o que na modernidade será considerado ou não científico. O positivismo do século XIX teve origem na aplicação desse paradigma nas ciências sociais, como também, a visão de Ciência denominada empirismo-lógico, que, resumidamente caracteriza-se por apresentar uma “tendência reducionista astrolábioe cumulativa”, um “formalismo metodológico” e um “enfoque naturalista” (Wortmann, 1992).

Diferentemente da ciência grega ou mesmo medieval, a ciência  moderna só pode ser compreendida se não separarmos o pensamento teórico e a atividade técnica. A técnica no período circunscrito pela ciência moderna, não se origina somente de um aprimoramento de instrumentos já existentes. Ela igualmente pressupõe a existência de uma estrutura conceitual, que guiará a criação de novas técnicas e novos instrumentos. A invenção de uma nova técnica respeita certos preceitos teóricos, podendo acontecer também que certa técnica dê oportunidade para o desenvolvimento de uma nova experimentação teórica.

Referências:

Santos, B.S. Um discurso sobre as Ciências. 8. ed Porto: Afrontamento, 1996

Videira, A. L. L. Natureza e ciência moderna. Ciência e Ambiente, v. 28. Santa Maria: UFSM, 2004. p. 121-134.

Wortmann, M.L.C. Os programas de ensino de ciências no Rio Grande do Sul. Educação e Realidade, 17 (1), Porto Alegre: UFRGS, 1992. p. 33-47.

Observação:

1. Texto escrito por Ana de Medeiros Arnt e Profª. Nádia Geisa Silveira de Souza (FACED/UFRGS) para as disciplinas de Introdução à Prática de Ensino em Ciências e Instrumentação para o Ensino de Ciências e Biologia

2. Imagem retirada de: www.portaldoastronomo.org/tema8.php

quarta-feira, 18 de março de 2009

Quem escreve aqui

Esta é a equipe responsável pelo blog Histórias das Ciências.


Ana Arnt - Bióloga e Doutoranda em Educação (Estudos Culturais). Professora universitária. Autora do blog Cultura, Educação e(m) Ciências.


Alcione Torres - Licenciada em Química e Mestre em Ensino, Filosofia e História das Ciências. Autora do blog Ensino de Química.



Alan Dantas - Licenciado em Ciências Biológicas, mestrando em Ensino de Ciências (História das Ciências) professor de Biologia e Física em Cursinho pré-vestibular comunitário e um apaixonado pela Ciência e suas histórias.

Quase Pauling... mais uma vez


Nada melhor do que inaugurar o blog com um post de um caso interdisciplinar pensando em um físico, um grande químico e um biólogo, foram eles: Francis Crick (1916 - 2004)Linus Pauling (1901 - 1994) James Watson (1928 -). Bom, e o que os três tinham em comum além do reconhecimento de hoje? O DNA, pra ser mais específico, ambos participaram da corrida pela estrutura da molécula de DNA,  há vários outros é claro, mas hoje resolvi destacar Pauling em homenagem  a uma das colaboradoras do blog (hehehe).

Antes da proposta feita por Watson e Crick sobre o modelo da dupla hélice havia outros diversos, e logo Pauling cometeu um erro que justamente ele não poderia ter cometido, para discorrer sobre a natureza do DNA ele propôs que os grupos fosfatos seriam neutros ao invés de ácidos, também elaborou o modelo de DNA como hélice, porém era uma tripla hélice... Talvez isto se deva ao fato de ele não ter tido o acesso ao material de Rosalind Franklin e Maurice Wilkins do King’s College, quando Pauling tentou vê-las num congresso na Inglaterra ele teve seu passaporte retido pelo Departamento de Estado dos EUA por suspeitarem que ele era adepto ao comunismo. Muitos dizem que se ele não fosse barrado talvez os nomes de Crick e Watson não seriam tão citados como hoje.

Onde encontram-se os manunscritos (digitalizados) de Linus Pauling relacionados à corrida para a descoberta da estrutura do DNA]



segunda-feira, 16 de março de 2009

História e Filosofia das Ciências no Ensino de Química

Utilizei a apresentação de slides abaixo numa aula para abordar aspectos importantes na utilização de História e Filosofia das Ciências no ensino de Química.

Com as reformas implantadas no ensino de Química na última década, fala-se muito em trabalhar a História e a Filosofia das Ciências para facilitar o entendimento da Química. Essa abordagem proporciona a significação dos conceitos e o ensino da Química em seus diversos contextos: ético, histórico, filosófico (reflexivo), social e tecnológico. Além disso, um senso histórico torna as aulas mais ricas, profundas e mais interessantes para os estudantes.

Nessa apresentação cito dois autores: Chassot e Matthews (referências no final da apresentação).

Chassot, em seu livro Alfabetização Científica, enfatiza que a História da Ciência é uma facilitadora da alfabetização científica do indivíduo. Defende a remoção de alguns conteúdos que acrescentam pouco ao entendimento e à construção dos conhecimentos de Química e a busca de um ensino mais histórico, que evidencie a natureza do conhecimento químico e mostre como essa ciência negocia e enraíza esse conhecimento.

Para Matthews, a História e a Filosofia não tem todas as respostas para resolver os problemas enfrentados pelo ensino de Ciências, mas:

  • Humanizam as Ciências e as aproximam dos interesses pessoais, éticos, culturais e políticos da comunidade;
  • Podem tornar as aulas de Ciências mais desafiadoras e reflexivas, incentivando o pensamento crítico;
  • Contribuem para o entendimento mais integral da matéria científica, tornado-a mais significativa para o sujeito;
  • Ajuda na formação do professor, na formação da concepção de Ciência que o professor terá e acabará passando para seus alunos.

Assim como os autores citados, entendo que é importante que o estudante compreenda como o pensamento científico mudou através do tempo. A natureza desse pensamento é afetada pelo contexto social, cultural, moral e espiritual da época ou do meio no qual se desenvolve. O aluno precisa entender o caráter transitório do conhecimento científico para entender que a Ciência, como construção humana, está sujeita a falhas e a mudanças em suas convicções.

Ensinar uma Química que tenha significado para os estudantes é o primeiro (e grande) passo para se conseguir um bom aprendizado.


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Aurora

É com muita alegria, ainda que contida no receio da empreitada, que iniciamos este blog! Por um interesse em comum, entre companheiros virtuais blogueiros... Professores da área da Ciência, da Química e da Biologia, preocupados com Educação, que se encontraram, por acaso, nos labirintos da internet e resolveram dar conta desse recado!

Este blog vem ao encontro do interesse de pesquisa e conhecimento dos autores do blog. Vocês encontrarão neste espaço discussões proveniente de estudos, curiosidades, perguntas sem respostas, lampejos de idéias e, quem sabe, alguns devaneios histórico-científicos também!

Sejam bem vindos ao nosso blog!